O dia 19 de setembro de 2021 vai marcar o centenário de um brasileiro que segue vivo por seu legado. Um educador que provou com a própria trajetória que a educação tem propósito, e que optou e trabalhou incansavelmente por aquela que fosse libertadora e humanizadora. Seu nome é Paulo Freire. Educador, filósofo e concretizador de utopias.
Paulo Freire transformou o entendimento sobre a educação. O impacto das suas ideias e práticas mexeu com pessoas de todo o mundo. Próximo ao seu centenário, a Rádio Universitária busca onde as sementes do pensamento freireano foram plantadas e como elas frutificaram em trajetórias de vida e trabalho.
Começamos por João Batista Figueiredo, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Ceará. Hoje educador e pesquisador, João se encontrou com o pensamento de Paulo Freire na década de 1980, ao se deparar com as obras Educação como Prática da Liberdade e Pedagogia do Oprimido. Mas foi somente a partir do final da década de 1990 e começo dos anos 2000, que pôde se debruçar sobre as ideias do pensador e colocá-las em prática:
"Eu tive a oportunidade e o privilégio de trabalhar efetivamente com a proposta freireana. Tanto do ponto de vista da minha pesquisa de doutorado, quanto da implementação de um projeto de sociedade a partir das concepções de Freire, o que de fato foi possível. Uma comunidade do interior do Ceará que incorporou essa ideia conosco, conseguiu transformar as próprias condições do município, que vivia submetido a uma lógica de algumas famílias ditas tradicionais, e conseguiu romper a partir de uma educação popular freireana".
O município é Irauçuba e, dizendo de forma sintética, as condições eram de opressão política e injustiça social. A experiência está registrada no livro Educação Ambiental Dialógica: as contribuições de Paulo Freire e a cultura sertaneja nordestina. Ela foi marcante para os caminhos de João. E, como ele mesmo nos conta, Paulo segue lhe acompanhando:
"Eu diria que hoje praticamente em todos os meus movimentos. Tanto como pedagogo, do ponto de vista prático, de ação pedagógica como professor de didática, de educação popular, de educação ambiental. E como pesquisador, porque é a partir de uma proposta freireana que eu pesquiso. Então eu trabalho com círculos dialógicos, com pesquisa numa perspectiva dialógica, a proposta de educação que eu trabalho é dialógica. Porque, efetivamente, eu vejo que a única formação aceitável para esses tempos atuais, e para que a gente possa consolidar um outro momento histórico, é a partir de uma proposta freireana".
Uma proposta baseada em princípios que aspirem a liberdade, a consciência crítica e a justiça social, e que devem ser compreendidos e exercitados de forma integrada, segundo João:
"Eu acredito que é importante essa integração dos princípios freireanos. Os princípios dialógicos que são a amorosidade, a humildade, a perspectiva de fé e esperança, e uma abordagem mais crítica de mundo".
Comprometido com uma atuação acadêmica que encare os desafios dos nossos tempos, João Figueiredo está prestes a lançar um novo livro. Ele será sobre a dialogicidade de Paulo Freire na formação docente. O tema é foco de várias pesquisas que vêm desenvolvendo pela UFC.
Neste centenário de Paulo que se aproxima, João reforça o que aprendeu com o pensador e que considera atual e fundamental para compreender a realidade:
"Criticidade na busca da razão de ser das coisas e práxis, no sentido de uma prática refletida, fazem absoluta diferença".
Esta foi a primeira matéria da série especial da Rádio Universitária em homenagem ao centenário do educador Paulo Freire.
Raquel Dantas para a Rádio Universitária FM.