12/05/21

Breaking fará parte dos Jogos Olímpicos em Paris de 2024

O breaking é uma dança, um esporte e uma potência no campo social (Foto: Marcelo Maragni/ Red Bull Content Pool)

A entrada do breaking nas Olimpíadas de Paris em 2024 vem gerando movimentação no Brasil. A dança faz parte dos elementos básicos do Hip Hop, que também conta com as artes de fazer grafite, de ser MC e de ser DJ. Incluir o breaking nas Olimpíadas é uma tentativa de atrair públicos mais jovens. Nos Jogos Olímpicos de Tóquio de 2020, adiados para o próximo mês de julho em decorrência da pandemia de covid-19, o Comitê Olímpico Internacional (COI) já vai trazer o surfe, o skate e a escalada esportiva, como novas modalidades.

O breaking ganhou adeptos no mundo inteiro desde que surgiu nos Estados Unidos, nos anos 1970. Aqui no Brasil não foi diferente. Em Fortaleza, ele chegou na década de 1980 com grupos juvenis como o MH2O - Movimento Hip Hop Organizado. Um de seus fundadores é Flip Jay, que também fez parte do grupo de rap Costa a Costa, nos anos 2000. Ele conta sobre os motivos pelos quais os cearenses costumam se destacar em competições nacionais e internacionais de breaking:

"É um reconhecimento. [São] quase cinquenta anos de história de uma dança surgida num gueto nova-iorquino, que agora é reconhecida como a dança esporte que vai estar ingressando nas Olimpíadas de 2024. Fiz parte da fundação do Hip Hop no estado do Ceará. Por volta de 1988, 1989, a gente começou a se organizar, a ter um entendimento de movimento. Por volta de 1990, 1991, é que a gente fundou as primeiras entidades – na época, o MH2O. Daí, se conseguiu difundir e espalhar o Hip Hop para o resto do estado. Os eventos do Dragão do Mar só vieram nascer a partir de 2005, mais ou menos. Nas três danças principais do hip-hop, o breaking, o popping e o locking, a gente produziu campeões nacionais. E recentemente produzimos dois campeões brasileiros, principalmente de breaking, que são o Till e o Bart. Eles são crias da cypher de B-boys do Dragão do Mar, que aconteceu aos sábados, por dezoito anos."

O Brasil tem uma cultura do breaking bem ligada à capoeira, o que contribui para dar destaque mundial a B-boys e B-girls do nosso país. Existe uma ligação forte entre as duas práticas, principalmente na forma como foram criadas. É o que nos conta a B-girl e instrutora Fabiana Balduína, de Brasília, mais conhecida como FabGirl:

“Eu tive contato mesmo, ingressei no grupo de capoeira angola Nzinga DF, que é um grupo de Salvador, mas que tem um núcleo aqui no Distrito Federal, em 2018. A capoeira, na verdade, acabou me ligando ao breaking por um viés de ancestralidade. Eu já dançava breaking há 18 anos. Apesar de ter chegado antes na minha vida, a capoeira me trouxe uma ancestralidade que eu ainda não havia experienciado ainda no breaking, apesar de ser também uma dança afro-diaspórica. É muito louco isso, de como essas duas artes acabam tendo uma certa convergência em relação à forma como foram criadas. Acredito que esse momento é um marco histórico para a dança breaking. As Olimpíadas vem passando por uma baixa de público. Então, quando o presidente do Comitê Olímpico Internacional diz que quer adicionar uma dimensão mais artística, jovem, nas Olimpíadas, isso já me indica algumas coisas. Acho que vai ser muito positivo, mas é muito importante também pensar que pode haver, e certamente haverá mesmo, o aspecto negativo também. Tem dois lados da história: ao mesmo tempo que a gente vai ter uma super projeção, divulgação, muita visibilidade, por outro lado também vai acabar, talvez, elitizando. Fazendo uma análise mais interna, aqui no Brasil, a gente vai ter muita dificuldade. Pode ser que as diferenças sociais, sobretudo, também podem ter uma certa ênfase, com relação à acessibilidade."

As batalhas de breaking em competições normalmente têm dois oponentes se enfrentando em três rounds (Foto: Divulgação/ Red Bull)

As batalhas de breaking em competições normalmente têm dois oponentes se enfrentando em três rounds (Foto: Divulgação/ Red Bull)

Diferente do surfe e do skate, duas outras modalidades recém incluídas, o breaking não conta com muitos equipamentos públicos no Brasil. Às vezes os atletas treinam em lugares inapropriados, como praças, diminuindo suas condições de extrair o mais alto rendimento que a modalidade necessita. Apesar de ser uma novidade no meio olímpico, há mais de 10 anos o breaking possui eventos nacionais, como Master Crews (São Paulo), Quando as Ruas Chamam (Brasília), e o Festival Cearense de Hip Hop (Fortaleza).

As batalhas de breaking em competições normalmente têm dois oponentes se enfrentando em três rounds. Em cada um, os B-boys e B-girls se apresentam com movimentos alternados. A combinação que eles escolhem deve ser respondida pelo outro competidor, num tempo de 30 a 45 segundos. No final, um grupo de juízes avalia.

Em 2019, o cearense Mateus Melo, mais conhecido como Bart, foi campeão brasileiro do Red Bull BC One e pré-selecionado para a final mundial do BC One, na Índia. Para ele, B-boys e B-girls precisam também se conectar com a plateia e principalmente com o DJ que vai estar tocando. Bart, que também praticou capoeira antes do breaking, passa outras dicas:

"Para, hoje em dia, B-boys e B-girls focarem em inovação – trazer o seu personagem ali, aquilo que você cria com carinho, que faz sentido mesmo pra você, aquele passo, sabe? O que me ajudou foi olhar para a batalha bem antes de estar lá. Realmente saber com quem que eu posso estar batalhando, qual é minha chave, estar conectado com a plateia, com os jurados, saber o que os jurados querem e, principalmente, saber quem vai tocar no dia. Porque o DJ é o mestre de todo o movimento. É ele que traz a música e você vai ter que improvisar naquele momento. Nunca se abalar, por mais que você tenha feito um round não tão bom. Mas isso é o breaking. Aquela malemolência, sabe? De estar tudo sob controle, mesmo que você saiba que errou. Em relação à parte financeira, a gente está caminhando, mas está caminhando não tão rápido. A confederação, a CNDD, que é a Confederação Nacional de Dança Desportiva (e de Salão), está à frente disso. Querem realmente dar suporte para os atletas da seleção brasileira. O que a gente está conseguindo é através de ir, mesmo, bater na porta das empresas privadas e estar pedindo apoio. Mas tem aquela discriminação, porque o breaking é dança de rua... Mas a gente vai e mostra que não é só isso, né? Que não é à toa que o breaking tá nas Olimpíadas."

O breaking é uma dança, um esporte e uma potência no campo social. Em mais de quarenta anos no Brasil, influenciado por movimentos da centenária capoeira, salvou muitas vidas, espalhando-se por periferias de todo o país. Em Fortaleza, sempre existiram incentivos para jovens que gostam de danças urbanas em espaços como os CUCAs. Os B-boys e as B-girls criaram uma identidade nacional e, com essa força, se preparam para a estreia do esporte nas Olimpíadas de 2024.

Reportagem de Rayanne Pinheiro para o programa Zumbi.

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