Bela, recatada e do lar. Essa mulher pouco a pouco vai deixando de existir. Numa sociedade entranhada pelo machismo estrutural, cada dia mais, desde o século XVIII, as mulheres vão rompendo barreiras, mostrando seu valor e incomodando os homens que se sentem confortáveis em suas posições de dominação.
Hoje, no Dia Internacional da mulher, vamos falar sobre o feminismo, que, diferente do que muita gente pensa, não é o oposto de machismo, porque pelo contrário: a crítica feminista surge para libertar tanto mulheres como homens de relações de poder construídas culturalmente. Mas será que diante da diversidade das reivindicações das mulheres, podemos falar de um só feminismo? Quem explica é a professora Ana Rita Fonteles, do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará e coordenadora do Grupo de Pesquisas e Estudos em História e Gênero na Universidade.
"O mais apropriado é a gente falar em feminismo, assim, no plural. Os feminismos são compreendidos como um conjunto de movimentos de mulheres em defesa dos seus direitos. Esses movimentos partiam principalmente da constatação das desigualdades construídas entre homens e mulheres. Os feminismos como críticas da cultura, como desnaturalização desse lugar de desigualdade são importantes para a construção de novas relações sociais, de novas formas de vida pautadas pela igualdade, pela abolição da violência, pela liberdade, abrindo caminhos também para os homens pensarem a construção de suas masculinidades."
De acordo com a professora, a segunda onda feminista chega ao Brasil em plena ditadura militar. E é liderada por perseguidas políticas em contato com saberes e experiências feministas de outros lugares, mas também por mulheres situadas na Universidade, nos movimentos sociais e nos meios de comunicação, produzindo o que ela chama de um pensamento genuinamente brasileiro.
Temas como sexualidade, maternidade, maior responsabilidade feminina sobre o trabalho doméstico, desigualdades de oportunidades e no mercado de trabalho, além da própria violência, são questões que passam a ser caras a partir desse momento. A professora Ana Rita Fonteles traça um perfil das feministas desse período e pontua as novas transformações em curso dentro dos movimentos:
"Eu diria que esses movimentos são marcadamente ainda produzidos e liderados por mulheres vindas de classe média, brancas, mais intelectualizadas, que muitas vezes falam pelas mulheres de classes mais pobres, mulheres negras, enfim, mulheres de comunidades. Então, você vai ver que de lá pra cá o que muda é a reivindicação dessas mulheres marcadas por lugares de classe, de raça, de gênero diferentes dessas mulheres intelectualizadas e de classe média branca, se colocando e colocando as suas reivindicações e suas bandeiras próprias, fazendo uma crítica a esse feminismo. A gente pode dizer que houve uma popularização de certa forma. Se a gente olhar mais para o tempo presente, uma popularização dos conteúdos feministas, principalmente a partir da disseminação de redes sociais."
No atual contexto, a discussão é sobre a desigualdade das conquistas feministas, afinal de contas os avanços têm acontecido de maneira desigual para grupos de mulheres diferentes. Debates raciais, liberdades de escolha, assédios e discussões sobre padrões corporais são algumas das pautas das terceira e até, para alguns, quarta onda feminista.
Síria Mapurunga para a Rádio Universitária FM