Você já percebeu quanto tempo passa falando dos outros? Um estudo publicado pelo jornal acadêmico estadunidense Psicologia Social e Ciência da Personalidade mostrou que 52 minutos do nosso dia são usados para simplesmente falar dos outros, ou seja, fofocar. O estudo também aponta que a fofoca normalmente envolve o compartilhamento de informações sociais inofensivas. No sentido geral não há mal algum em fofocar, mas porque nós temos esse hábito?
Segundo a professora de psicologia da UFC - Universidade Federal do Ceará e analista do comportamento, Natália Marques, a fofoca tem uma função evolutiva muito importante. Desde os primórdios, a raça humana se mostrou uma espécie muito social, que, para obter vantagens adaptativas, precisou se unir em grupos, e a troca de informações que acontecia entre os participantes desse grupo garantiu a sobrevivência da espécie. A professora Natália dá detalhes sobre a importância da fofoca:
“Então, o que a ciência hoje nos diz é que o fofocar não é recente, e que foi muito importante para a nossa sobrevivência, e que ainda hoje, a depender do contexto em que estamos, ele pode ser importante para a nossa sobrevivência. Hoje, na nossa forma de organização social no mundo moderno, a fofoca se tornou menos evidente na sua função de garantia de sobrevivência, mas ela ainda é importante do ponto de vista social. Quando eu digo importante eu não estou fazendo uma apologia a fofoca, eu estou dizendo que ela ainda assume funções significativas na nossa forma de conviver socialmente.”
Segundo a universitária Victória Neves, ela e as amigas adoram compartilhar informações sobre famosos (Foto: Reprodução/Internet)
Além de fofocar para obter informações, as pessoas também fofocam com a intenção de influenciar a opinião de outras pessoas ou como uma simples forma de socializar dentro de um grupo. Essa troca de informações que acontecem dentro de um grupo tem a função de selecionar aqueles indivíduos que compartilham a mesma opinião. A estudante universitária Victória Neves conta que o ato de fofocar une as pessoas do grupo:
“Eu e as minhas amigas quando a gente fofoca é mais sobre um programa de televisão que a gente assiste, ou sobre alguma notícia de algum famoso que a gente vê nas redes sociais. Sobre coisas que a gente faz na faculdade, sobre o que acontece na nossa casa, a gente sempre comenta, então os assuntos são bem mais pessoais, e quando é externo é sobre os famosos. E quando a gente junta as informações, que a gente acaba trocando informações e opiniões sobre as coisas que acontecem, eu acho que a gente se aproxima mais porque muitas opiniões são iguais e parecidas, também tem opinião que não é tão parecida assim, mas isso une a gente.”
A jornalista Sônia Abrão comanda o programa de entretenimento e fofoca "A Tarde é Sua", na RedeTV!, desde 2006 (Foto: Reprodução/Internet)
O estudo do jornal acadêmico estadunidense também aponta que até 4% das fofocas são maliciosas, ou seja, tem conteúdo depreciativo ou mentiroso sobre alguém ou alguma situação. Nesse caso, o fofocar precisa ter limites. O professor de psicologia da UFC, Rodrigo Maia, alerta para as consequências da fofoca maliciosa:
“Adolescentes e jovens adultos que são objetos de fofocas maliciosas, fofocas que são carregadas de conteúdos depreciativos sobre o sujeito, podem desenvolver o que chamamos de comportamentos internalizantes e comportamentos externalizantes. Dentro dos comportamentos internalizantes temos os sentimentos como tristeza, ansiedade e angústia, que podem predispor a um sofrimento subjetivo. Enquanto os comportamentos externalizantes, podemos perceber com a agressividade, a introspecção por parte do sujeito e o envolvimento com comportamentos de risco.”
Ainda de acordo com o estudo, os homens se envolvem em fofocas de conteúdos negativos com mais frequência que as mulheres, essa informação desfaz o estereótipo de fofoqueiras que as mulheres recebem. Além disso, os pesquisadores constataram que os fofoqueiros são as pessoas mais extrovertidas dos grupos. E aí? Quantas vezes você já fofocou hoje?
Reportagem de Danielle Gadelha com orientação de Carolina Areal, Fabrício Girão e Igor Vieira
