28/04/20

A importância da diversidade na literatura infantil

"A diversidade é fundamental. Ela precisa existir. Então qualquer engessamento, que retira a diversidade, estimula o preconceito, o estereótipo, e causa sofrimentos profundos em cada indivíduo e no corpo social", explica a escritora Tânia Dourado (Foto: iStock/Modificada por Lunetas)

[Atualizada às 15:09] Anteriormente, a reportagem dizia que a escritora e linguista Tânia Dourado possuía doutorado pela Universidade de Sorbonne. O doutorado de Tânia é pela Universidade Estadual do Ceará com co-orientação da Universidade de Sorbonne.

De acordo com a pesquisa Retratos da Literatura no Brasil, divulgada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, a estimativa de brasileiros que consomem livros cresceu de 50% em 2011 para 56% em 2015. A média anual de livros lidos por habitante passou de 4 para 4,96. A concentração de maiores proporções de leitores é na infância. Na faixa de 5 a 10 anos, 67% são leitores. Essa porcentagem chega a 84% na faixa de 11 a 13 anos.

Tânia Dourado, escritora, linguista, e doutora em Comunicação pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) com co-orientação da Universidade de Sorbonne (França), explica a importância da literatura na infância, principalmente quando abordam as diversidades que fazem parte do nosso cotidiano:

“A literatura como um todo é um discurso fundador, é um discurso constituinte. Ela nos constitui como sujeitos e constitui o imaginário coletivo. Ela ativa em nós o sentimento de pertença. A literatura, portanto, que a gente chama 'diversa' é uma literatura que traz o humano pra dentro dela, das suas narrativas, e o humano é complexo, tem dores, tem frustrações, tem limitações, tem choro, tem angústia, tem sofrimento, tem perdas, tem desigualdades, tem inseguranças na escola, tem tantos sentimentos quanto esse adulto e a criança precisa conviver com essa realidade.”

O escritor Plínio Camillo e sua filha Beatriz no lançamento do livro "O namorado do papai ronca" (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

O escritor Plínio Camillo e sua filha Beatriz no lançamento do livro "O namorado do papai ronca" (Foto: Divulgação/Arquivo Pessoal)

O ator, roteirista e educador social Plínio Camillo concorda com Tânia Dourado sobre a importância da leitura:

“O livro é um companheiro muito interessante.  É um companheiro que a gente pode ler no escuro com uma lanterna, que não precisa esperar 'pra baixar', que é um amigo que leva a gente para vários lugares. Eu só escrevo porque eu li bastante, porque eu tive a oportunidade de viajar bastante na leitura.”

Plínio também é escritor e lançou, em 2012, o livro O namorado do papai ronca, que narra a história de Dante, um garoto de 12 anos, que convive com o pai e o namorado do pai. Plínio conta o que levou em consideração na hora de escrever o livro:

"Uma preocupação que eu tive foi não ser irritantemente didático, não dar lições de moral, mas apresentar um fato, colocar uma saída, uma situação em que esse meu personagem supera uma dificuldade".

O livro "Cadê a criança que estava aqui?", de Tânia Dourado é considerado o primeiro livro infantil do mundo a trazer um personagem dentro do espectro autista (Foto: Divulgação)

O livro "Cadê a criança que estava aqui?", de Tânia Dourado é considerado o primeiro livro infantil do mundo a trazer um personagem dentro do espectro autista (Foto: Divulgação)

A escritora Tânia Dourado é autora do livro Cadê a criança que estava aqui?, que foi publicado em 1998 e foi considerado o primeiro livro da literatura infantil mundial a trazer um personagem dentro do espectro autista. Ela reforça o papel da diversidade na literatura:

"É muito importante, a diversidade. É muito importante que a gente entenda que precisamos desconstruir estereótipos, o engessamento de tentar colocar todas as pessoas no mesmo grupo funcionando da mesma forma. A diversidade é fundamental. Ela precisa existir. Então qualquer engessamento, que retira a diversidade, estimula o preconceito, o estereótipo, e causa sofrimentos profundos em cada indivíduo e no corpo social.”

De origem indígena, Daniel Munduruku é escritor, professor e graduado em história, filosofia e psicologia. Autor de livros para todos os públicos, ele traz as raízes indígenas em suas histórias. Para ele, a importância de abordar assuntos que envolvem minorias sociais surge da necessidade de conhecer culturas e tradições para romper com a resistência a esses temas:

"As palavras não precisam ser ditas de uma maneira muito quadrada. Quando a gente fala de minorias, quando a gente fala de pessoas ou de grupos em risco social, como o feminismo e os LGBTQ+, essas palavras que foram inventadas para definir pessoas, às vezes, criam uma certa resistência. Então eu penso que mais do tratar de minorias, a gente tem que tratar de conhecimentos, de tradições e culturas. E mostrar que isso faz parte da gente, faz parte da construção da nossa humanidade. É claro que alguns assuntos são mais delicados porque efetivamente atingem um espectro da sociedade brasileira e isso precisa ser abordado de uma maneira doce e inclusiva, de uma maneira que faça com que crianças e jovens se sintam parte dessa população."

Daniel Munduruku traz suas raízes indígenas nos livros que escreve para todas as idades (Foto: Divulgação)

Daniel Munduruku traz suas raízes indígenas nos livros que escreve para todas as idades (Foto: Divulgação)

A diversidade é considerada um tema importante pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que determina as diretrizes, metas e estratégias para a política educacional até 2024. De acordo com o Plano, são considerados grupos de diversidade as populações do campo, comunidades indígenas e quilombolas, afrodescendentes e população adulta de baixa escolaridade.

Fazem parte dessa lista também os jovens de baixa renda e pessoas com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. O PNE traz ainda uma diretriz que afirma a importância da erradicação de todas as formas de discriminação.

Reportagem de Mariana Bueno com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira

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