De acordo com a Fundação Alexadre de Gusmão, órgão vinculado ao Ministério das Relações Exteriores, o PIB - Produto Interno Bruto do Brasil em 2019 foi estimado em 2,2 bilhões de dólares, configurando o país como a oitava maior economia do mundo e a maior da América do Sul.
Essa posição e importância no contexto econômico global fazem do Brasil peça fundamental no Mercosul. Se a economia do país vai mal, todo o bloco pode ser prejudicado.
O Brasil é o país com maior parque industrial do Mercosul. Produtos de alta tecnologia produzidos aqui, como automóveis, raramente ganham espaço em mercados mais competitivos como os da América do Norte, e o país encontra no Mercosul um importante mercado consumidor desses produtos.
O economista e consultor interno do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento na Guiné-Bissau, Mamadu Djau, explica que se o Brasil eventualmente escolhesse deixar o Mercosul, isso seria prejudicial para sua economia.
"Geraria perdas comerciais, uma vez que os produtos de empresas brasileiras exportados para esses países passarão a sofrer taxação e consequentemente barreiras alfandegárias e taxativas que antes não se verificavam. Essas situações de certo modo causariam constrangimentos econômicos para o Brasil, mesmo sendo o país líder na América do Sul".
Seguindo a lógica de integração dos blocos econômicos, a União Monetária, como é o caso da União Europeia, seria o próximo estágio para o Mercosul. Nessa fase, os países adotam uma única moeda para todos e há livre circulação de bens, serviços e pessoas.
Mas para alcançar essa integração, as políticas econômicas dos países do bloco precisam estar muito alinhadas, e para os principais países do Mercosul, Brasil e Argentina, os últimos anos foram marcados por forte instabilidade política e econômica.
E ainda há outros agravantes, como o caso da Venezuela, membro efetivo mais recente do Mercosul, que está suspensa do bloco desde 2016. Ela não cumpriu os acordos com os quais se comprometeu, e passa por uma extrema crise econômica e humanitária.
Dada a conjuntura atual, o professor Carlos Américo do departamento de Teoria Econômica e do Mestrado de Avaliação de Políticas Públicas da UFC, avalia que as perspectivas para o futuro do Mercosul não são as melhores.
"Se a gente analisa o quadro atual, eu particularmente sou muito cético em relação ao futuro. O que eu espero: que o Mercosul priorize a questão social, a questão ambiental, que ele comece a trabalhar essas pautas. Acho muito difícil isso acontecer na atual conjuntura, principalmente com governos que não estão alinhados do ponto de vista ideológico e quando você tem um governo como o nosso que não tem absolutamente nenhum compromisso com essas pautas".
O professor universitário Pedro Israel, mestre em filosofia política, explica o contexto atual dos blocos econômicos no mundo e corrobora com o argumento de que o futuro do Mercosul é desafiador.
"Vivemos um momento de indecisão no mundo, não é apenas o Mercosul que está ameaçado, hoje nós temos diversos blocos ameaçados. Não podemos esquecer que recentemente o próprio Tratado de Livre Comércio da América do Norte, o NAFTA, foi dissolvido por uma política que foi conduzida pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Então essa política do Trump junto a outros, como por exemplo, aqui no Brasil, Jair Bolsonaro e o Ministro da Economia, Paulo Guedes, bem como representantes de diversos países europeus".
Em meio a incertezas, o presidente Jair Bolsonaro declarou querer um bom relacionamento com a Argentina, visando o Mercosul. Já o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, chegou a comentar que o país atuaria como uma dobradiça entre Brasil e Argentina para garantir o funcionamento do bloco.
Reportagem de Fabrício Girão, com produção de Carolina Areal e Fabrício Girão, coordenação de produção de Igor Vieira e operação de áudio de José Raimundo Lustosa.