25/09/19

O presente e o futuro do rádio

O dia do rádio é comemorado em 25 de setembro. A data é em alusão ao aniversário de Roquette Pinto, considerado o pai do rádio no Brasil (Foto: Reprodução/Internet)

No dia 7 de setembro de 1922, em meio às festividades do Centenário da Independência, o rádio começava a sua jornada no cotidiano dos brasileiros. Com o início marcado pela reprodução das radionovelas e dos programas musicais, esse meio de comunicação teve a sua era de ouro até a década de 1950, quando a televisão começou a ganhar espaço.

Desde então, para se manter entre os principais mecanismos de comunicação da sociedade, o rádio passou por transformações em sua programação e nas características de produção e apresentação. Andréa Pinheiro é jornalista e professora do curso de Sistemas e Mídias Digitais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela comenta sobre as inovações desse meio de comunicação ao longo do tempo:

“O que eu acho que mudou ao longo do tempo foi a forma como nós passamos a nos relacionar com o rádio. Tem até alguns pesquisadores que vão definir que rádio, para ser rádio, precisa ser transmitido em tempo real, por exemplo. E o que a gente tem visto hoje é que tem uma mudança nessa relação. As pessoas continuam ouvindo mídia sonora, mas não necessariamente em tempo real. Eu acho que essa é uma tecnologia que está válida porque a gente continua tendo contato com essa forma de comunicação. E a própria perspectiva da linguagem, a gente avançou muito na estética sonora. Eu acho que são apostas muito interessantes para pensar a atualidade do rádio”.

No início, a programação do rádio tinha como base os concertos líricos, recitais de poesia e as radionovelas (Foto: Reprodução/Internet)

No início, a programação do rádio tinha como base os concertos líricos,
recitais de poesia e as radionovelas (Foto: Reprodução/Internet)

As tecnologias mais recentes levaram o rádio para outras plataformas além dos aparelhos convencionais. No dia 5 de outubro de 1998, o rádio brasileiro chegou à Internet através das web rádios. A Rádio Totem foi a primeira emissora online de maneira integral e abriu caminho para as mais de 2.000 web rádios existentes no país, de acordo com o portal RadiosNet.

Voltadas para a segmentação de conteúdos, além da praticidade de operação e acesso, essas emissoras abrem caminho para mudanças no consumo de informação e entretenimento. Marcelo Medeiros é jornalista e idealizador da web rádio Siará News. Ele explica como a Internet influencia as novas formas de trabalhar com o rádio:

“Eu vejo que nós estamos tendo uma mudança de paradigma muito grande com o advento dos streamings de rádio, streamings de áudio, vídeo, podcasts. Isso democratizou muito a informação. Então hoje, qualquer pessoa no mundo, independente se é jornalista ou não é, pode ser produtor de conteúdo. Você não fica mais hoje dependendo das grandes mídias. Você tem conteúdo para todos os gostos. E isso está facilitando o desenvolvimento do mercado de comunicação do país”.

Das 50 milhões de pessoas que ouvem podcasts, pelo menos 19 milhões consomem a mídia sonora três vezes ao dia. Os dados são de um levantamento realizado pelo Ibope em 2019 (Foto: Reprodução/AdobeStock)

Das 50 milhões de pessoas que ouvem podcasts, pelo menos 19 milhões consomem a mídia sonora três vezes ao dia. Os dados são de um levantamento realizado pelo Ibope em 2019 (Foto: Reprodução/AdobeStock)

Um dos fatores que explica o crescimento das mídias sonoras no ambiente online é a ascensão dos podcasts. Esse segmento faz sucesso entre 50 milhões de internautas brasileiros, de acordo com um levantamento realizado em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope).

A possibilidade de ouvi-lo a qualquer momento, além da grande variedade de conteúdo, que pode, por exemplo, abordar desde o cinema até a educação financeira são apontadas como principais características desse meio. Caio Mota é coordenador de programação da Rádio Universitária FM. Ele fala sobre a produção e a importância de disponibilizar alguns conteúdos da emissora em plataformas sob demanda:

“Se tem uma coisa que eu não gostava no rádio e na TV convencional era a coisa de você estar obrigado a ouvir aquela atração naquele momento. A gente seleciona aqui na Rádio [Universitária FM] alguns programas [para disponibilizar nas plataformas digitais]. É uma forma de você conquistar um novo público. É uma forma de você sair daqui de Fortaleza e Região Metropolitana, que é o que a gente consegue abranger, e ir para o Brasil inteiro, o mundo inteiro. Nós temos ouvintes na Europa, na Ásia, na América, tudo a partir dessas plataformas agregadoras de podcasts. Então é uma forma de você conquistar novos públicos e também um público mais jovem. Sendo a Rádio Universitária, a maioria do nosso público é adulta. Então a gente sempre tenta agregar estudantes da UFC e, enfim, comunidade universitária, comunidade externa que seja mais jovem também”.

Com a presença no âmbito digital, o rádio está cada vez mais ágil, imediato e interativo. Mas, além dessas características, o que é necessário para que esse meio de comunicação permaneça acessível? A professora da UFC Andréa Pinheiro cita algumas ações para que o rádio se mantenha importante no futuro:

“Eu acho que o rádio ainda é uma mídia de prestação de serviço. Cada vez mais, a sociedade necessita desse diálogo, dessa mediação. Inclusive, em alguns momentos, com os poderes públicos. Como é que o rádio pode aproximar o poder público da sociedade, de um modo geral. Então eu acho que a aposta ainda deve ser na prestação de serviços, no esclarecimento da população para determinadas questões. O rádio permite que a gente discuta de forma aprofundada e com uma linguagem muito mais simplificada temas e questões que são densas, que são difíceis de serem exploradas em outros formatos informativos. Então eu acho que o rádio ainda tem essa missão para cumprir enquanto veículo que pode ajudar a melhorar e muito a vida das pessoas”.

Independente do meio, o rádio é uma plataforma que continua popular entre os brasileiros. Segundo pesquisa realizada pelo Kantar Ibope em 2018, o Brasil é o país com mais consumidores de rádio no mundo. O levantamento aponta que 91,9% da população tem acesso a esse meio de comunicação.

Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira

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