No dia 30 de março de 1939, um personagem de aspecto sombrio e com trajes inspirados em um morcego aparecia pela primeira vez nas histórias em quadrinhos. A edição 27 da revista Detective Comics apresentava ao mundo o Batman, que é apontado como o segundo maior super-herói de todos os tempos, de acordo com uma pesquisa realizada pela IGN em 2011.
O homem-morcego, que também pode ser chamado de Cavaleiro das Trevas ou O Cruzado de Capa, foi criado por Bill Finger e Bob Kane. E, ao longo de 80 anos de existência, continua atraindo atenção a cada lançamento de uma nova saga, seja nos quadrinhos ou no cinema. Diego Moreau é autor do livro Bill Finger – A história secreta do Cavaleiro das Trevas. Ele fala sobre a importância do Batman para o crescimento da cultura nerd:
"O impacto dele é impressionante, de várias maneiras que a gente pode analisar. Por exemplo, essa capacidade de tornar o personagem crível dentro de um universo de super-heróis que fez o personagem durar 80 anos, que faz tanta gente se identificar com ele. E isso está no ar e continua fazendo sucesso. É provavelmente um dos dois ou três personagens que são conhecidos no mundo inteiro. Então ele influencia o cinema, influencia os quadrinhos, influencia games. Várias vezes, os jogos do Batman da série do Arkham ganharam como melhor game do ano. A força do personagem é tão imensa que ela ajuda a construir a cultura pop como a gente conhece. Tanto é que quando os quadrinhos perdem força no pós-Segunda Guerra Mundial, os únicos heróis que sobram é o Batman, a Mulher-Maravilha e o Superman. Então eu acho que ele é um personagem que ajuda a moldar a nossa cultura pop".
Com o passar das décadas, o Cavaleiro das Trevas passou por algumas transformações causadas por aspectos comerciais e até mesmo sociais. O super-herói, que se vingava dos vilões psicopatas de Gotham City durante a noite, passa a estar presente em uma realidade muito diferente, exemplificada por uma série cômica do personagem que foi ao ar na década de 1960.
Além disso, com os jovens sendo um dos maiores públicos de suas histórias, os roteiristas viram a necessidade de inserir contextos mais próximos a essa audiência. Dessa forma, surge o personagem Robin, considerado o primeiro parceiro mirim de um super-herói nos quadrinhos. Diego Moreau comenta sobre as mudanças que o Batman enfrentou ao longo do tempo:
"Ao mesmo tempo em que o Batman vai mudando ao longo desses 80 anos, a essência dele segue a mesma essência que foi criada lá em 1939 pelo Bill Finger. Mas, claro, ao longo do tempo ele vai sofrendo algumas mudanças de acordo com o período. Por exemplo, nas histórias iniciais, o Batman tem histórias bem violentas até para a época, de serial killer etc. Só que o que acontece? Quando tem a Segunda Guerra Mundial, a mídia quadrinho fica muito entrelaçada com o período. Então os heróis acabam enfrentando os nazistas etc. E aí quando termina a guerra, eles acabam deixando de fazer sucesso. Depois chega o Macartismo, com um discurso todo reacionário nos Estados Unidos, que acaba influenciando os quadrinhos e gerando censura para os quadrinhos. Então o Batman acaba ficando mais ameno, mais bobinho. Ele começa a lutar com robôs. Depois, lá na virada dos anos 1960, chega uma dupla de criadores que começam a resgatar esse Batman mais detetive. Demora um pouco para pegar, pois tem um seriado de TV que é engraçadinho. Mas depois acaba pegando e ele volta a ser esse detetive mais sério. E a gente tem muitos anos do Batman cada vez mais violento, mais soturno".
Com o sucesso, o Batman ultrapassou as barreiras das histórias em quadrinhos. As sagas d'O Cruzado de Capa invadiram diferentes áreas do entretenimento e hoje estão disponíveis em filmes, seriados, jogos eletrônicos e produtos como brinquedos e roupas. Mas qual o segredo para a popularidade do Cavaleiro das Trevas? O quadrinista Daniel Brandão explica o que torna o Batman diferente dos outros super-heróis:
"Eu acho que o que torna o Batman popular, em relação aos outros personagens, é a relação humana. O fato dele não ter superpoderes, dele se utilizar da inteligência, da força do corpo, da obstinação. Isso eu acho que é um atrativo, assim como a questão do drama pessoal, a perda da família e uma busca por uma justiça para que aquilo não se repita mais. Acho que outro atrativo também, vale dizer, são os personagens coadjuvantes e os vilões, porque um herói sem grandes vilões não é muita coisa. E o Batman, talvez, tenha o panteão de vilões mais interessante de todos, assim como os personagens coadjuvantes. O universo do Batman é muito vasto".
Outra extensão desse sucesso é o impacto que o personagem causa na trajetória pessoal de muitos fãs. Juaci Filho acompanha o Batman desde os quatro anos de idade e transformou a sua admiração pelas sagas d'O Cruzado de Capa em uma forma de ganhar a vida. Ele comenta sobre como a sua relação com o super-herói o influenciou a trabalhar como cosplay do homem-morcego:
"Desde sempre sou fã do Batman. Desde criança sempre tive essa paixão por fantasia. Eu queria me vestir com máscaras. Aí o tempo foi passando, eu conheci o que era cosplay e me apaixonei. Só que na época que eu comecei, não tinha condições financeiras para fazer o Batman de cara. Eu fui fazendo os mais simples e, na primeira oportunidade que deu, eu fui lá e fiz o Batman, e realizei o meu sonho. Eu juntei o hobby e acrescentei com uma rendinha extra que começou a dar. É muito gratificante trabalhar com o Batman e trazer alegria às crianças e aos adultos também".
Em 2014, a DC Comics oficializou o dia 21 de setembro como o Dia do Batman. A data foi instituída em comemoração aos 75 anos do personagem na época.
Reportagem de Pedro Silva com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira