A Copa do Mundo de Futebol Feminino vem alcançando recordes de visibilidade em 2019. A modalidade, que até hoje passa por diversas histórias de preconceito, resistência e superação, tem atraído mais olhares e estado mais presente nas discussões do público. Na partida das oitavas de final, em que a Seleção Brasileira acabou sendo eliminada pela França, a Rede Globo chegou a bater o recorde de audiência para o esporte no país. A emissora alcançou 32 pontos em São Paulo durante o jogo.
Junto das grandes emissoras, os espaços proporcionados por redes sociais e o apoio de movimentos feministas ajudaram a impulsionar a participação brasileira. Para Walessa Silva, técnica de futebol do Sociedade Esportiva União (RN), a proporção conquistada no mundial deste ano deve trazer influências positivas. Ela acredita que a audiência e a movimentação do mercado possam aumentar no futuro:
“Hoje, a gente pode assistir jogos da seleção brasileira televisionados pelas maiores emissoras do nosso país, e você vê, em toda a cadeia de redes sociais, todo o mundo acompanhando. Então daqui há quatro anos, essa Copa do Mundo não vai ser mais como foi essa. Vai ter uma dimensão muito melhor. A expectativa é muito positiva para que as empresas possam patrocinar melhor as atletas”.
Mas antes de chegar à projeção que tem hoje, a prática do esporte por mulheres chegou a ser proibida no Brasil durante 38 anos. Apenas em 1983 é que a regulamentação foi concretizada, permitindo assim que as jogadoras pudessem competir, utilizar estádios e ter o ensino da modalidade em escolas. A jornalista e comentarista esportiva, Karine Nascimento defende que a atenção dada ao cenário vem sendo adiada. Ela fala que, apesar dos avanços, ainda existem demandas de décadas anteriores:
“O futebol feminino é como se fosse a modalidade do futuro. Sempre do futuro porque sempre fica aquela esperança de que no futuro melhore, de que no futuro tenha mais incentivo, e acaba que isso vai sendo relegado com o passar do tempo. A gente vai sim vendo um crescimento, mas é um crescimento que vai crescendo aos poucos. Já deveria estar em um patamar mais evoluído. Muitas das dificuldades que as meninas têm agora, as jogadoras do campeonato de 1983 tinham também como, por exemplo, a questão de não ter incentivo".
Em 2019, além de alcançar maior popularidade, o futebol feminino também tornou-se obrigatório. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) passou a exigir que equipes masculinas na Série A do Campeonato Brasileiro tenham times de futebol feminino. De acordo com Paloma Abreu, atleta de futebol feminino da Universidade Federal do Ceará (UFC), medidas assim são necessárias. No entanto, a jogadora ressalta que o bom ensino de base é fator essencial na construção de maior igualdade entre os gêneros:
“Tem que haver uma mudança principalmente nas escolas. Eu acho que é onde começa tudo. É onde você começa a mostrar para essa menina que ela não precisa jogar só vôlei. Se ela quiser jogar futebol, se ela quiser jogar futsal, ela pode jogar futebol e futsal. O professor de educação física tem um papel importantíssimo nisso, para justamente guiar. É na escola que começa. Então se você é ensinada que menina joga vôlei e menino joga futebol, a criança vai crescer com esse pensamento também. A mudança tem que ser nas escolas principalmente. E aí quando essas pessoas forem crescendo, as coisas vão se igualando”.
Com o maior reconhecimento em torno da modalidade, já é possível ver algumas mudanças. De acordo com matéria do jornal Diário do Nordeste, a procura por escolas de futebol feminino tem aumentado na capital cearense. Campeonatos amadores também acontecem na cidade em finais de semana. Na Areninha do bairro Bom Jardim, por exemplo, a escola é gratuita e tem treinamentos de segunda a sexta-feira.
Reportagem de Theresa Rachel com orientação de Carolina Areal e Igor Vieira