De Luiz Gonzaga a Dominguinhos. De Marinês a Elba Ramalho.
O forró, uma das principais expressões culturais do Nordeste, pode se tornar Patrimônio Imaterial brasileiro. Caso receba o título, ficará ao lado de bens imateriais como o frevo, o samba de roda e a capoeira.
Mas para que o forró se torne patrimônio cultural, serão realizadas pesquisas de campo até o fim de 2020. Só após a fase de instrução técnica, é que segue para a avaliação do conselho consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Para a realização da pesquisa, o Iphan conta com a parceria da Associação Respeita Januário, de Recife, em Pernambuco. O coordenador da pesquisa, Carlos Sandroni, fala da necessidade de rigor técnico para a consolidação do forró como patrimônio imaterial:
“É necessário para que esse registro seja bem sucedido no Iphan, que a equipe que eu estou coordenando produza um material de grande qualidade sobre o que é o forró, o que são as matrizes do forró, por que essas matrizes são relevantes para a formação cultural do Brasil, por que elas são relevantes para as pessoas que continuam praticando e levando à frente essas matrizes tradicionais. Então, uma vez esse dossiê todo reunido e revisado, a gente envia isso pro Iphan, para que receba um parecer técnico do conselho consultivo do Iphan, e esse parecer sendo positivo, ele vai para votação no conselho consultivo do Iphan para ser escrito em um dos livros do patrimônio imaterial do Iphan”.
Segundo Oswald Barroso, pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisa em História e Culturas da Universidade Estadual do Ceará (UECE), há fragilidade na proposta. Ele defende que o forró é uma festa e não um ritmo e teme que os interesses da indústria cultural possam prevalecer:
“Eu vejo como uma interrogação. Porque na verdade o forró, vem de forrobodó, é uma festa. Agora, dentro do forró tem xote, baião, xaxado, coco, tem muitos ritmos. O forró varia entre esses ritmos populares nordestinos, e tem uma festa. Eu acho que tem tanta coisa para ser tombada como patrimônio, registrada como patrimônio imaterial, que eu tenho impressão que esses interesses sobre o forró vêm mais da indústria cultural, vêm mais do pessoal que quer ganhar dinheiro com isso, quer valorizar mais esse negócio de chamar agora de forró, que estão chamando tudo de forró, e empobrecendo a música nordestina. Eu acho que isso é uma coisa da indústria cultural e não de interesse popular”.
Carlos Sandroni, coordenador da pesquisa do Iphan, afirma que, para se opor a essa linha de pensamento, a ideia é focar nas matrizes tradicionais do forró. Em primeiro momento, a pesquisa terá como base gêneros e instrumentos musicais que formam o que seria um conceito inicial de forró. Dentre os citados estão os ritmos do baião, do xote e do xaxado, além dos instrumentos sanfona, zabumba e triângulo. Sandroni explica ainda o por quê da pesquisa não aderir ao forró atual, nem ao que a mídia apresenta com mais frequência:
“O nosso tema são as matrizes tradicionais do forró. Então eu acho que existe um acordo, que eu acho que não é tão polêmico, de que as bandas que estão na mídia hoje em dia podem ser forró, mas elas não são as matrizes tradicionais do forró. Porque isso não interessa para o registro patrimonial. O registro patrimonial do forró se interessa mais por essas matrizes, por esses elementos musicais que têm um registro mais tradicional, e que explicam, de certa forma, pela sua continuidade, pela sua permanência histórica, que vai um pouco além dos modismos, da banda ou do estilo que hoje está na moda e amanhã já vai ser outro estilo. Então esses elementos matriciais têm uma permanência no tempo, que não é eterna, mas que é uma permanência longa”.
A primeira fase para esse reconhecimento foi aberta oficialmente em maio. O Iphan realizou o seminário Forró e Patrimônio Cultural em Recife e contou com a presença de artistas, pesquisadores e produtores culturais. O sanfoneiro de oito baixos, Luizinho Calixto, esteve presente em alguns eventos organizados pelo Instituto. Ele ressalta a importância do processo para o cenário:
“Foi muito positivo, e debatido muita coisa sobre o forró tradicional na Europa, o forró tradicional aqui no Brasil. Eles estão estudando, debatendo, conversando, levando o problema para as reuniões, para as cidades, para os estados. E nós esperamos que isso surta efeito positivo para todos nós e em pouco tempo. Porque nós já estamos cansados de passar por isso. Eu acho que é muito importante tudo que vier a favorecer a nossa classe, que já vem penando aí há bastante tempo. Tudo que vem para favorecer é positivo”.
A pesquisa tem início em junho, com o período das festividades de São João. A partir de então, estados como Ceará, Paraíba, Pernambuco e Bahia terão a presença da equipe técnica em suas festas juninas.
Reportagem de Theresa Rachel, com orientação de Igor Vieira e Thais Aragão