Não se nasce mulher, torna-se mulher.
Você já deve ter ouvido essa frase em algum lugar. A citação tem origem no livro O Segundo Sexo de Simone De Beauvoir, que foi umas das filósofas mais importantes para os estudos do feminismo.
A obra foi lançada em 1949 e este ano completa 70 anos, abordando as construções sociais que pautam a figura do feminino a partir de diversos aspectos, como o biológico, o histórico e o psicanalítico.
A professora do curso de história da Universidade Federal do Ceará, Ana Rita Fonteles, coordena o Grupo de Pesquisas e Estudos em História e Gênero, e fala um pouco sobre a contribuição da obra O Segundo Sexo:
“Nesse sentido o Segundo Sexo que tem um mérito muito forte porque é uma pesquisa que a Simone desenvolve praticamente sozinha, uma reflexão sobre a cultura Ocidental e como a cultural Ocidental posiciona diferentemente homens e mulheres. Na verdade a gente pode dizer que são discursos sobre os gêneros. A gente percebe que ainda há muitas continuidades, no sentido das desigualdades, na permanência das desigualdades salariais, do acesso à educação”.
Escrito logo após da Segunda Guerra Mundial, o livro dialoga com dois movimentos importantes da época: o sufragismo, que tinha o voto feminino como pauta, e o movimento operário. Ainda assim, a obra de Beauvoir mostra sinais de atualidade, por trazer questões sobre a necessidade de luta e consciência
A estudante de licenciatura em história Larissa Caetano, também é participante do Coletivo Feminista Severinas, ele foi criado em 2015 e integra mulheres através da articulação política. Ela explica de que maneira o livro O Segundo Sexo, de Simone De Beauvoir, ajuda a pautar as questões do feminismo e o ativismo do coletivo.
“A obra de Simone De Beauvoir não é referência só para o nosso coletivo mas acho que para vários outros também e também individualmente, o fortalecimento individual tanto para mulheres quanto para homens também que querem nos ajudar e estar conosco nessa luta. Então, a obra da Simone faz com que a gente se sinta mais forte, mais preparadas para aceitar os convites que nós recebemos em universidades, em escolas de ensino médio e fundamental, a gente acaba levando ela e seus pensamentos onde a gente vai”.
Apesar do reconhecimento que a obra da filósofa francesa tem nos dias de hoje, a desigualdade de gênero que ela apontava há 70 anos ainda é pauta de grandes discussões. A professora Ana Rita Fonteles explica um pouco do motivo desse processo.
“O feminismo de maneira geral, não só a partir de O Segundo Sexo, sofre campanhas sistemáticas em diferentes momentos da história porque ele questiona o status quo em relação às questões de gênero, às desigualdades. Ele desestabiliza o que está posto, de como esses direitos podem vir a desestabilizar a sociedade, a economia, as tradições e próprio lugar de privilégio e poder dos homens”.
O Segundo Sexo foi, e é considerado responsável pelo despertar da cumplicidade e ativismo de muitas mulheres. A estudante de psicologia Suellen Rocha afirma que, mesmo não possuindo contato direto com a obra, é possível entender a importância que ela tem atualmente para o feminismo.
“Eu acredito que apesar de eu não estar tão ativamente quanto a maioria das mulheres que se afirmam feministas, acredito que com o trabalho de formiguinha a gente consegue mudar um pouquinho mais a consciência das pessoas que estão ao nosso redor”.
A leitura de O Segundo Sexo segue provocante, mostrando que continua sendo uma obra relevante, mesmo setenta anos depois de sua primeira edição.
Reportagem de Calianne Celedônio com orientação de Thaís Aragão e Igor Vieira