Considerada a segunda língua oficial do Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) está presente, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no cotidiano de mais 10 milhões de pessoas com deficiência auditiva em todo o país. Com reconhecimento obtido pela lei nº 10.436 apenas em 2002, essa comunicação é alvo diário da falta de informação e do preconceito, gerando barreiras para a ampliação de seu ensino e difusão.
Esses fatores, muitas vezes, invisibilizam a importância que a Libras possui na sociedade. Contudo, algumas ações desenvolvidas por instituições e apoiadores buscam proporcionar o acesso e a inclusão de todos aqueles que utilizam essa linguagem como ferramenta de comunicação com o mundo.
O papel das instituições no conhecimento de Libras
Na capital cearense, o ensino de Libras cresceu nos últimos anos. Apesar de ser recente, algumas instituições de ensino promovem cursos e disciplinas voltadas para essa comunicação. Na Universidade Federal do Ceará (UFC), por exemplo, o curso de graduação em Letras-Libras surgiu em 2013.
Segundo Rundesth Saboia, professor do curso de Letras-Libras da UFC, a criação de uma graduação direcionada a essa língua gera uma valorização. “Nós temos os cursos de Letras-Inglês, Letras-Espanhol e houve o pensamento: ‘porque que não há Letras-Libras?’. Porque Libras é uma língua também. Então nós pensamos em formar o curso e também a disciplina de Libras obrigatória para os cursos de licenciatura para que as pessoas pudessem compreender a cultura e a comunicação das pessoas surdas”, afirma.
Assim como a valorização, Rundesth também acredita que a procura pelo conhecimento de Libras está evoluindo e mais pessoas estão compreendendo a sua importância. “Há uma crescente demanda de pessoas surdas precisando de pessoas ouvintes que saibam Libras. Por exemplo, hoje um psicólogo precisa fazer um curso de Libras. Ele não pode chamar um intérprete, pois existe a ética profissional. Não se pode falar dos problemas do surdo para o intérprete”, ressalta.
Além da UFC, existem outros centros de ensino espalhados pela cidade que ofertam o ensino de Libras. Entre eles estão os cursos de licenciatura ou básicos do Centro Universitário 7 de Setembro (Uni7) e Instituto Municipal de Pesquisa Administração e Recursos Humanos (Imparh).
A importância de Libras no cotidiano
Nos dias de hoje, a Libras é fundamental para que a comunicação seja realizada em todos os níveis. A integração e a acessibilidade para a população de pessoas com deficiência auditiva são importantes para que esse grupo tenha uma qualidade de vida melhor.
No ambiente de trabalho, o entendimento dessa comunicação também é importante. Fábia Nascimento, secretária do Curso de Biblioteconomia da UFC, defende que o conhecimento da Libras é substancial. “A importância é imensurável, principalmente agora, que a universidade deu cotas para pessoas com deficiência. Nesse semestre de 2018.2, nós (da Biblioteconomia) vamos receber dois alunos com deficiência auditiva. Então, saber pelo menos o básico aqui para recebê-los será muito significativo para eles próprios, pois eles vão se sentir mais acolhidos”, comenta.
No ambiente familiar, a comunicação com as pessoas com deficiência auditiva também é de grande valia. Principalmente, quando essa relação acontece desde o nascimento. A prova disso está presente na vida de Danilo Castro. O ator e jornalista é filho de pais surdos e, desde a infância, teve a Libras como a principal comunicação dentro de sua casa.
“Os filhos de pessoas surdas são chamados de Coda e a gente foi educado de forma bilíngue. A gente aprendeu o português enquanto aprendeu a Libras. E são línguas com lógicas completamente diferentes. Então, a gente foi aprendendo o português ouvindo o português e a Libras vendo a prática de Libras através de gestos e sinais”, explica.
As dificuldades apesar dos avanços
Mesmo com o maior interesse em se aprender Libras, ainda existem dificuldades e barreiras para aqueles que dependem exclusivamente dessa língua para se comunicar. O isolamento dessas pessoas dentro da sociedade é uma realidade muito forte em todo o país.
Danilo Castro explica como isso acontece com os seus pais. “No decorrer de toda a minha vida, eu e o meu irmão passamos a ser os ouvidos dos nossos pais. Porque não tem, praticamente, nenhum órgão que possua pessoas fluentes em Libras. Então, se meus pais precisassem ir a um posto de saúde, por exemplo, não tinha nenhum intérprete, nenhum médico bilíngue. Tudo tem que ser mediado por mim e por meu irmão e isso acaba gerando uma dependência enorme”, relata.
O ensino de Libras é necessário para que possa haver integração de pessoas com surdez na sociedade. Entretanto, sabe-se que há muito a ser realizado para que haja uma comunicação digna com esse grupo. A empatia e o respeito com essas pessoas são fundamentais e a criação de mais políticas públicas é o caminho para uma melhor garantia de direitos.
Reportagem de Pedro Silva com orientação de Natália Maia.